Claudio Monteverdi

Claudio Monteverdi (1567-1643):

A invenção do Barroco.

The invention of the Baroque.

Se a primeira edição da Academia Ludovice se centrou na vasta obra de Georg Philipp Telemann (1681-1767), e a segunda se focou no grande e variado legado de François Couperin (1668-1733), um dos maiores mestres do Barroco francês, a terceira é consagrada ao «inventor» do Barroco musical: Claudio Monteverdi (1567-1643)!

O início do século XVII testemunhou aquela que foi talvez a maior revolução na História da Música. A descoberta da monodia acompanhada e a invenção da ópera no norte de Itália estenderam rapidamente a sua influência à música instrumental e à música sacra. A polifonia não foi totalmente abandonada, mas o novo estilo ou seconda pratica impôs-se como gosto dominante, ao permitir uma abordagem livre, pessoal, francamente emocional e expressiva dos textos poéticos. A escrita para uma voz solista acompanhada pelo baixo contínuo semi-improvisado permitia uma grande flexibilidade e variedade de texturas, ora imitativas ora declamativas, bem como a exploração de uma sonoridade que se estende desde a elevação mais angelical até à mais apaixonada voluptuosidade, sobretudo nas poesias mais afectadas pela ardência emocional e teatral próprias do barroco. Claudio Monteverdi é o compositor do início de Seiscentos que, não sendo o inventor destas novas técnicas, formas e estilos, os levou à perfeição, explorando e expressando com ousadia nunca antes vista — e raramente ultrapassada nos séculos seguintes — os mais profundos dramas humanos. 

Colocar este curso sob o «signo» de Monteverdi garante uma unificação programática às aulas e orientação às actividades de conjunto, concertos, e conferências. Ao longo desta semana iremos conhecer e visitar algumas das suas obras-primas, que abriram caminho a uma forma radicalmente diferente de entender a música e a sua capacidade de transmitir e sublimar os afectos, incluindo extractos das suas óperas, alguns dos mais tocantes madrigais, as mais graciosas canções, e o seu vasto legado no campo da música sacra. 

Mas o génio de Monteverdi é incompreensível e injustificável se não conhecermos e aprofundarmos todo o seu contexto cultural e artístico, nem os seus antecessores, contemporâneos, sucessores e imitadores. Sendo a sua produção exclusivamente vocal, com excepção de curtas danças e sinfonias, é necessário olhar e explorar o imenso legado de uma legião de compositores — uns com uma formação teórica mais tradicional, outros instrumentistas ou cantores virtuosos, sobretudo audazes e inventivos — que, entre os finais do século XVI e início do século XVII, primeiro nas diversas cortes e repúblicas do Norte de Itália, depois em toda a península itálica e, finalmente, em toda a Europa, foram os obreiros deste novo e influente estilo que hoje conhecemos como «Barroco». Assim, os alunos e professores são convidados a trabalhar juntos Madrigais e Chansons polifónicos, bem como as suas elaborações ornamentais e adaptações instrumentais («Diminuições» e «Intavolature»); os novos Madrigais monódicos, Árias estróficas, as primeiras cantatas, cenas de ópera em Stile Rappresentativo, motetos e outras obras sacras; as Canzonas e primeiras Sonatas para ensemble instrumental ou para solista(s) com baixo contínuo; e o riquíssimo repertório para tecla e cordas dedilhadas: Tocatas, Ricercari, Fantasias e várias Danças. 

Todos os alunos são assim convidados a apresentar obrigatoriamente pelo menos uma obra (ou mesmo apenas um andamento) de Claudio Monteverdi — no caso dos cantores — ou de um seu contemporâneo italiano nas suas aulas individuais. Mas claro que poderão — e deverão! — apresentar obras de outros compositores, escolas, épocas e estilos, ainda que, sempre que possível, com alguma relação com o período e o estilo em foco. Os concertos e projectos vão centrar-se preferencialmente na obra de Monteverdi, na dos seus contemporâneos e conterrâneos, e no seu impressionante legado. 

If the first edition of the Academia Ludovice focused on the vast work of Georg Philipp Telemann (1681-1767), and the second focused on the great and varied legacy of François Couperin (1668-1733), one of the greatest masters of French Baroque, the third is dedicated to the "inventor" of the musical Baroque: Claudio Monteverdi (1567-1643)!

The beginning of the 17th century witnessed what was perhaps the greatest revolution in the History of Music. The discovery of accompanied monody and the invention of opera in northern Italy quickly extended its influence to instrumental and sacred music. Polyphony was not completely abandoned, but the new style or second practice established itself as the dominant taste, allowing a free, personal, frankly emotional and expressive approach to poetic texts. Writing for a solo voice accompanied by a semi-improvised basso continuo allows for great flexibility and variety of textures, sometimes imitative and sometimes declamatory, as well as the exploration of a sound that ranges from the most angelic elevation to the most passionate voluptuousness, especially in the poems more affected by the emotional and theatrical ardor typical of the Baroque. Claudio Monteverdi is the composer of the early 1600s who, although he was not the inventor of these new techniques, forms and styles, brought them to perfection, exploring and expressing with boldness never seen before — and rarely surpassed in the following centuries — the deepest human dramas.

Placing this course under the "sign" of Monteverdi  guarantees programmatic unification of classes and guidance for ensemble activities, concerts, and conferences. Throughout this week we will get to know and visit some of his masterpieces, which paved the way for a radically different way of understanding music and its ability to transmit and sublimate effects, including extracts from his operas, some of his most touching madrigals, the most graceful songs, and his vast legacy in the field of sacred music.

But Monteverdi's genius is incomprehensible and unjustifiable if we do not know and delve deeper into his entire cultural and artistic context, nor his predecessors, contemporaries, successors and imitators. As his production is exclusively vocal, with the exception of short dances and symphonies, it is necessary to look and explore the immense legacy of a legion of composers — some with a more traditional theoretical training, others bold and inventive instrumentalists or virtuoso singers — who, between the end of the 16th century and the beginning of the 17th century, first in the various courts and republics of Northern Italy, then throughout the Italian peninsula and, finally, throughout Europe, were the creators of this new and influential style that today we know as «Baroque». Thus, students and teachers are invited to work together on polyphonic Madrigals and Chansons, as well as their ornamental elaborations and instrumental adaptations («Diminutions» and «Intavolature»); the new monodic Madrigals, strophic Arias, the first cantatas, opera scenes in Stile Rappresentativo, motets and other sacred works;  Canzonas and the first Sonatas for instrumental ensemble or for soloist(s) with basso continuo; and the very rich repertoire for keyboard and plucked strings: Tocatas, Ricercari, Fantasias and various Dances.

All students are therefore invited to present at least one work (or even just one movement) by Claudio Monteverdi — in the case of singers — or by one of his Italian contemporaries in their individual classes. But of course they can — and should! — present works by other composers, schools, periods and styles, although, whenever possible, with some relationship with the period and style in focus. The concerts and projects will preferably focus on Monteverdi's work, his contemporaries and countrymen, and his impressive legacy.

Lista de obras sugeridas de Claudio Monteverdi e seus contemporâneos

List of suggested works by Claudio Monteverdi and his contemporaries

Claudio Monteverdi:

Canzonette, libro primo a 3 (1584)

Il primo libro delle canzonette a 3 voci (1594)

Scherzi musicali a 3 voci (1607)

Os oito livros de Madrigais (1587, 1590, 1592, 1603, 1605, 1614, 1619 e 1638);

Orfeo, favola in musica (1607)

Il ritorno d'Ulisse in patria (1639/40)

L'incoronazione di Poppea (1643)

Sacrae cantiunculae, liber primus a 3 (1582)

Vespro della Beata Vergine (1610)

Selva morale e spirituale (1640/41)

Messa et salmi (1650)

Diversos madrigais, canções e motetos publicados em recolhas ou em manuscrito / Several madrigals, songs and motets published in collections or in manuscript.

Tecla (cravo, órgão) / Keyboard (harpsichord, organ)

Andrea Gabrieli

Giovanni Gabrielli

Girolamo Cavazzoni

Claudio Merulo

Girolamo Diruta

Giovanni Picchi

Girolamo Frescobaldi

Giovanni di Macque

Ascanio Mayone 

Giovanni Maria Trabaci

Gregorio Strozzi

Giovanni Salvatore

(Atenção! Os órgãos históricos usados nas aulas não possuem pedaleira e têm apenas um manual! Attention! The historic organs used on our academy don't have pedal board, and only have one keyboard!)

Cordas dedilhadas /Plucked srings

Giovanni Girolamo Kapsperger

Alessandro Piccinini

Bellerofonte Castaldi

Francesco Corbetta 

Diminuições para instrumento melódico / Diminutions for melodic instruments

Silvestro Ganassi: Opera Intitulata Fontegara

Diego Ortiz, Nel qual si tratta delle Glose & Tratado de Glosas

Giovanni Maffei, Delle lettere del Sr. Gio. Camillo Maffei da Solofra

Girolamo Dalla Casa, Il vero modo di diminuir

Giovanni Bassano, Ricercate, Passaggi et Cadentie

Giovanni Luca Conforti, Breve et facile maniera d'essercitarsi a far passaggi

Riccardo Rogniono, Passaggi per potersi essercitare nel diminuire terminatamente

Giovanni Battista Bovicelli, Regole, passaggi di musica

Aurelio Virgiliano, Il Dolcimelo 

Francesco Rognoni Taeggio, Selve de varii passaggi

Giovanni Battista Spadi, Libro de passaggi ascendenti et descendenti

Sonatas, Canzonas e Danças para instrumento(s) melódico(s) / Sonatas, Canzonas and Dances for melodic instrument(s)

Giovanni Gabrieli

Giovanni Bassano

Adriano Banchieri

Dario Castello

Giovanna Battista Fontana

Giovanni Paolo Cima

Giovanni Battista Riccio

Girolamo Frescobaldi

Maurizio Cazzatti

Biaggio Marini

Claudio Merulo

Tarquinio Merula

Andrea Falconieri

Antonio Mortaro

Constanzo Porta

Salamone Rossi

Isabella Leonarda

Bartolomé de Selma y Salaverde

Floriano Canale 

Marco Uccellini

Giovanni Antonio Pandolfi Mealli

Massimiliano Neri

Música Vocal / Vocal Music

Adrian Willaert 

Cipriano de Rore

Andrea Gabrieli 

Lodovico da Viadana

Giovanni Paolo Cima

Giovanni Battista Riccio

Luzzasco Luzzaschi

Giaches de Wert

Lodovico Agostini

Alessandro Striggio

Luca Marenzio

Marc'Antonio Ingegneri

Carlo Gesualdo

Sigismondo d'India

Domenico Mazzocchi

Michelangelo Rossi 

Luigi Rossi

Giulio Caccini 

Francesca Caccini

Barbara Strozzi

Marco da Gagliano 

Emilio de' Cavalieri

Jacopo Peri

Alessandro Grandi

Benedetto Ferrari

Giovanni Rovetta

Francesco Cavalli

Antonio Cesti

Quase todas estas obras se encontram disponíveis em fac-simile no site IMSLP. Várias podem também ser compradas em edições modernas pela Le Pupitre, Éditions de l'Oiseau-Lyre, Bärenreiter, etc., ou em reimpressões em fac-simile da Fuzeau, SPES, etc. | Almost all of these works are available on the IMSLP website on facsimile. Many are edited by Le Pupitre, Éditions de l'Oiseau-Lyre, Bärenreiter, etc.; or reprinted in facsimile at Fuzeau, SPES, etc.